quinta-feira, 3 de novembro de 2011

SUKYO MAHIKARI

A Arte Mahikari 
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, O.B.S. 

No Sul do Brasil vem se espalhando uma corrente religiosa japonesa, Arte Mahikari. No Japão, ela existe há menos de 30 anos; aqui, há pouco mais de 12. Vejamos um pouco do seu conteúdo. 
A história começa com o japonês Sukuinushi-Sama, hoje já falecido. Ele era um empresário alheio à religião, até que um dia se viu em apuros e suplicou a proteção divina; diz ter recebido, nesta ocasião, revelações diversas, as quais lhe mostravam como salvar o mundo ameaçado. Fundou, então a corrente ora analisada. 
Sua mensagem se resume no seguinte: "Purifique a sua alma através da imposição das mãos para salvar a humanidade, pois o dia do Juízo Final está próximo". O livro chamado Sagrado Goseigen - que é a "bíblia" da nova corrente - traz compiladas as revelações que o fundador diz ter recebido, sendo a primeira datada de 27/2/1959, e a última, de 25/1/1967. 
Sukuinushi-Sama se julgava, sem dúvida, superior a Jesus Cristo e todos os mestres religiosos da história. Não acreditar nele, ou desprezá-lo significava desrespeitar o próprio Deus (cf. mensagem de dezembro de 1965. 
O autor chega a insinuar que ele é o Espírito da Verdade prometido por Jesus aos apóstolos (cf. Jo 16, 13): "Parece que meus predecessores, como Moisés, Buda e Jesus, aperceberam-se da existência dos mistérios dos céu, mas em suas respectivas épocas não lhes foi permitido transmiti-los claramente à humanidade. Pode-se entrever, de certa forma, a difícil posição deles pelos diálogos mantidos com os discípulos: 'Jesus responde: Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos dirá toda a verdade' (Jo 16,13),' (Goseigen, pág. 4). 

Okiyome: a arte de impor as mãos

O nome desta corrente decorre do fato de uma de suas principais tarefa ser a "arte" de impor as mãos (okiyome), para que se comunique ao homem a "Luz Verdadeira e Pura, Luz Divina" (Mahikari). Essa luz cura as pessoas de suas enfermidades físicas e pode preservá-las das catástrofes que estão para se desencadear sobre o mundo ("Batismo de Fogo"). 
A filha do fundador, Oshienuchi-Sama (Keiju Okada) é tida como a sucessora de seu pai na propagação da Arte Mahikari, indicada diretamente por Deus. 
A propósito, o próprio conceito de Deus é obscuro nesta corrente. Os anjos são tidos como parcelas de Deus - o que redunda numa espécie de politeísmo e emanatismo. 
Os homens na terra "estão rodeados por espíritos cheios de rancor, ódio, inveja e outros sentimentos negativos. Tais espíritos penetram diretamente no nosso organismo ou permanecem nas proximidades, sendo capazes de controlar livremente a nossa vontade, a nossa mente e os nosso corpo, acarretando conseqüências nefastas". 
Para nos livrar de doenças e infelicidades provocadas pelos maus espíritos "encostados", é preciso que recorramos ao okiyome (ou imposição das mãos); este remédio é um dos grandes valores revelados a Shukuinuchi-Sama e mantido oculto aos mestres anteriores. A imposição das mãos comunica, através do omitama (medalha especialmente preparada), a Verdadeira Luz, que amolece e derrete os acúmulos de toxinas, possibilitando sua eliminação do organismo. São assim purificados a alma, o corpo espiritual, o astral e o material. A Arte Mahikari, assim entendida, é a "super-religião, a "religião da humanidade". 
Em 1962 a humanidade entrou "na fase perigosa e de violentas transformações. A esta fase chamamos 'Era do Batismo de Fogo', na qual ocorrerão fenômenos de gigantescas proporções, como não acontece há milhões de anos, tais como: violentos abalos sísmicos, impetuosas erupções vulcânicas, enchentes de grandes proporções, submersão de terras, etc. Uma era de terror, jamais experimentada pela humanidade, está prestes a acontecer, mas não nos foi ensinado que haverá extinção total da humanidade" (Mabikari Responde, págs. 41s). Somente um quinto da humanidade conseguirá sobreviver. Haverá, além do mais, a guerra do Harmagedon, que a futuróloga americana Jeanne Dickson descreveu minuciosamente. Por ora, toca aos homens desejosos de salvação reconhecer a existência da divindade e obedecer às suas leis. 
A Arte Mahikari admite a reencarnação dos espíritos, através da qual o indivíduo adquire grande perfeição e a Vida Eterna. A pessoa que deseja conhecer o que houve na sua encarnação anterior pedirá que lhe imponham as mãos; poderá, então, manifestar-se um espírito, que desvendará toda a verdade. 
Conforme esta corrente, para se ligar a Deus não basta a oração. É necessário que o homem tenha um elemento de ligação com a divindade, que é o Goshintai, quadro representativo de Deus. 
Soluções mágicas aliviam e consolam 
Reflitamos sobre tal mensagem. A Arte Mahikari se enquadra dentro de um mecanismo psicológico muito freqüente em nossos dias. O mundo vai mal: há escândalos, guerras, violência, fome... Não se vê solução humana satisfatória. Daí o recurso espontâneo de certos "profetas" a revelações que desvendam o futuro e apontam uma saída, ainda que precária, para os seus seguidores. 
Haverá grandes castigos e catástrofes apocalípticas, tudo devido ao pecado. Todavia, o profeta vê uma solução a ele revelada; propõe, então, explicações e respostas de índole mágica, um tanto irracionais, mas aceitas pelo público sem espírito crítico, porque proporcionam um aparente alívio e consolo. 
Semelhante processo se verifica não somente em âmbito japonês, dotado de suas tradições próprias, mas também dentro do cristianismo, nas correntes dos adventistas, das testemunhas de ]eová, dos pentecostais radicais, etc. 
A profecia assim revelada ao vidente ou fundador da Arte Mahikari só pode ser tida como melhor do que qualquer outra, como superior aos vaticínios anteriores, para conseguir se impor como algo de inédito e abalizado. Por isso Sukuinuchi-Sama se julga mais prendado do que Moisés, Buda e Jesus Cristo. Nisso há uma megalomania, talvez inconsciente; o profeta faz sucesso e se deixa empolgar pela sua mensagem. 
De resto, o fenômeno de revelações minuciosas (e confusas, pouco lógicas) da parte de Deus ou de um ser do além é algo de não raro em nossos dias. Tem características suspeitas: o extraordinário e milagroso se torna ordinário e familiar, vem quase por encomenda; além disso, o linguajar mal concatenado é pouco digno do Senhor Deus. 
Notemos ainda que a Arte Mahikari é serviçal ao homem e antropocêntrica. Vem a ser mesmo um sistema curandeiro, pois pretende indicar as mais profundas causas das doenças - os pecados e a infestação de espíritos malignos - e propõe um remédio religioso para a maioria das moléstias físicas do ser humano. 
Ora, a religião é, antes de mais nada, adoração e louvor a Deus, a cujo serviço o homem se coloca com amor e entrega confiante, sabendo que a glória de Deus implica na sua plena realização. Por essas razões, verifica-se que são totalmente incompatíveis entre si a Arte Mahikari e o cristianismo. 
                                   

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